- Bom... Ele disse mais ou menos isso: - Ela começou a imitar uma voz de homem - "Cara, isso tá impossivel! Toda vez que eu me esforço pra lembrar de alguma coisa aparece uma... uma droga de interferencia! Tudo que eu consigo ver é um retardado que no caso sou eu correndo melecado de chocolate. Isso é patético!"
É. Essas palavras eram a cara do Fred. Eu ri. Fiquei conversando com Tereza até mais ou menos 09:30, quando ele acordou. Ela me levou até o quarto, e nos despedimos. Entrei tranquila, aquele nervosismo não me consumia mais.
- Marceleeeeeeee, namorada mais linda do Brasil! A que devo a honra?
Olha a palhaçada, Frederico - eu ri.
- Porque é que você ainda me chama de Frederico? Pode me chamar de Fred.
- Hm... não, eu não posso.
- E porque não?
- Porque você não é o Fred. Ainda não.
- Ah. - ele não gostou muito da minha resposta, era visível.
Mas eu tinha que dizer. Eu não podia chamar aquele estranho da mesma forma que chamava o meu Fred. Até tudo voltar ao normal, ele seria só o Frederico.
- Ei, tenho novidades pra você - falei.
- Iiiih, lá vem...
- Presta atenção caramba. Você lembra que ultimamente você tem dito pra Tereza que se vê correndo lambuzado de chocolate?
- S-s-sim! Não vai dizer que...
Fechei os olhos e falei o mais rápido que pude.
- Siméverdadenósfizemosisso.
- Quê? Fala direito pô, não entendi xongas do que você disse!
- Sim. É. Verdade. Nós. Fizemos. Isso. - repeti o mais devagar que pude.
- Tá brincando né?
- Não... se liga aqui, criança. - Tirei novamente a foto da bolsa e mostrei a ele.
- Ah. Meu. Deus!
Eu comecei a rir muito alto.
- Cala a boca, estranho! Foi você quem começou! - eu disse de brincadeira.
Ele riu junto comigo.
- O que foi que aconteceu?
- Eu posso... Ficar com a foto? - perguntou-me
- É claro. - respondi prontamente.
- Sabe Marcele... Logo eu estou voltando pra casa. Tenho certeza que minha mãe ia ficar feliz se você fosse lá. E eu também, claro. A gente podia sair sabe. Podíamos nos lambuzar de chocolate e sair correndo pela avenida mais movimentada da cidade, se você quiser. Eu só quero... Tornar isso fácil pra você.
Ao ouvir aquelas palavras, estremeci. Era o Fred. Era meu Fred. Ele tinha renascido das cinzas. Lágrimas de alegria se acumularam nos meus olhos, eu cheguei mais perto e dei um abraço nele.
- Obrigada. - sussurrei
Ficamos abraçados até que eu percebesse que era quase hora do almoço. Eu tinha que voltar pra casa. Despedi-me dele e ia saindo quando ele me chamou.
- Ei! Eu ainda sou seu namorado sabia? Não ganho um beijo?
Revirei os olhos, voltei e dei-lhe um beijo na testa.
- Fica bem, Frederico. Eu... amo você.
Voltei pra casa ainda meio em êxtase. Frederico finalmente tinha conseguido falar como gente, e não como um animal enfim. Cheguei e ninguém parecia muito desesperado com a minha ausência. Dei graças a Deus por isso. Minha mãe estava finalizando o almoço e Jin estava no quarto, grudada no computador como sempre. Ela era totalmente viciada. Quando me viu entrar correu até mim perguntando como tinha sido tudo. Eu contei a ela nos mínimos detalhes, até minha mãe chamar-nos para almoçar. Jin dormiria na minha casa mais dois dias até que a família dela voltasse para o Brasil e ela pudesse ir pro seu lar. Restavam também dois dias até que o Fred pudesse finalmente sair daquele hospital. A tarde passou rápido e a noite foi tranquila. Uma noite sem sonhos.
Acordei quase onze da manhã, e Jin não tinha se levantado ainda. Fui até a cozinha e minha mãe disse que tinha uma boa notícia.
-Tereza ligou - disse ela sorrindo - Ela disse que você vai poder se livrar da bota amanhã.
- Graças a Deus. - foi tudo que consegui responder.
Amanhã.
Amanhã eu tiraria a bota.
Amanhã Frederico voltaria pra casa.
Amanhã a família de Jin chegaria ao Brasil.
Amanhã.
O que eu não sabia é que apesar de todas as conquistas, glórias e felicidade amanhã seria o dia mais triste de toda a minha vida.
Amanhã.
Passei o resto daquele dia com um pressentimento ruim. Contei isso a Jin mas ela disse que era bobeira minha. "Calma aí tchutchucão! Ninguém vai jogar um bomba na nossa cabeça." Ela disse. Era incrível como com algumas palavras ela conseguia me acalmar e me fazer esquecer todas as mágoas. Ela era sem sombra de dúvida, a pessoa que eu mais amava na vida. Odiava admitir aquilo, mas talvez eu a amasse mais do que amava minha própria família. Era totalmente inacreditável como eu me sentia calma quando estava com ela. Ela me inspirava calma, tranquilidade. Tranquilidade; Jin. Jin serena, Jin tranquila. Me desculpe, querida Jin.
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