quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Saí do carro meio desajeitada, andando feito um pato com aquela bota ortopédica no pé, cheguei perto dele e dei-lhe um abraço apertado.
- Caaaaaaio que saudade! – não era mentira. Eu estava mesmo com saudade do ruivinho implicante.
- Baixinhaaaaaaaaa! Não acredito que estou te vendo inteira. Quase morri de preocupação...
- Eu estou viva Caio. Eu e o Frederico. – Fiz questão de ressaltar.
- Aaah, certo...
- E aí, que acha de entrarmos?
- Hmmm, uma boa ideia.
Minha mãe, que tinha me trazido até em casa inventou uma convenção de vendedores de peças pra motos pra sair e nos deixar sozinhos. Dá pra acreditar? Ela sempre quis que eu desse mais moral pro Caio, que era o “genro perfeito” na opinião dela. Claro, ele era “ rico, bonito, jovem, pode te dar tudo que você quiser!” nas palavras da minha querida mãe. Ah, as mães... quem pode julgá-las?
Entramos em casa e sentamo-nos.
- Você ta bem mesmo, baixinha?
- To inteira né. Hmmmmmm, Caio... Eu queria te... Eu queria, sabe...! Queria te agradecer por ter pago aquela... cirurgia pra mim. Nem se eu fosse sua escrava até o resto da minha vida eu iria conseguir demonstrar o tamanho da minha gratidão. Muito obrigada mesmo.
- Esquece isso Má. Era meu dever te ajudar, já que se você não tivesse posto aquele pino... Enfim, foi tudo bem na cirurgia?
- Eu estava com um pouco de medo, mas fora isso foi tudo legal – ri de nervoso só de lembrar. Eu realmente odiava cirurgias. – minha perna já... melhorou. Mas obrigada de novo Caio. Você é o melhor amigo que alguém pode ter.
- É isso que eu sou pra você né? Um... amigo legal.
- Caio, por favor... já conversamos sobre isso milhões de vezes.
- Eu sei, desculpa. Eu tava só pensando alto.
- Ta desculpado. Mas enfim, você tem falado com a Jin?
- Com a... Jin? Não, porque eu estaria falando com a Jin? Eu nem ao menos vejo a Jin. Não há possibilidade de eu ter falado com a Jin nesses últimos meses. Na verdade eu nem lembrava mais de quem é Jin. Quem é Jin mesmo hein? Jin... Jin... Não, eu não sei quem é Jin. – ele sorriu. Já estava suando bicas.
O Caio realmente mentia muito mal. Ele era o pior mentiroso que já conheci na vida. Quando ele mentia começava a falar abobrinha, sorrir e suar. Ah e claro: dizer milhões de vezes a mesma coisa. Era típico.
- Tsc, tsc. O que é que você está me escondendo, Caio Passaglia?
- Escondendo? Escondendo o que? Porque eu esconderia alguma coisa de você? Eu nunca te escondo nada. E nunca esconderei também. Não há razão pra esconder. Por isso eu não escondo. E vou continuar não escondendo pro resto da vida. Eu sou um livro aberto, nunca escondi nada.
Eu sorri,e já tinha entendido tudo. Dei uma gargalhada o mais baixo que pude, antes de gritar:
- Shut up, ruivinho! Eu já saquei! – Fiz uma cara sapeca. – Jinnnnnnnnn?
Ele abaixou a cabeça, vencido por não conseguir guardar segredo.
- SEU IMBECIL, FALEI PRA VOCÊ NÃO FICAR REPETINDO AS COISAS! – gritou uma voz fininha e infantil de dentro do lavabo. Eu sabia muito bem de quem era.
- JIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIN!
Saí correndo o mais rápido que pude com aquela bendita bota cortando meus movimentos. Abri a porta do lavabo e lá estava a minha bonequinha. Não tenho palavras pra dizer o quanto fiquei feliz em vê-la. Eu precisava dela mais que nunca.
- Fala aí tchutchucããããão! – Ela costumava me chamar de tchutchucão, nunca entendi muito bem porque. Ela dizia que era porque eu parecia com o tchutchucão perto dela: enorme.
Dei-lhe um abraço apertado. Eu simplesmente não podia a creditar que ela estava ali.
- Me acerto com você depois, ruivinho de merda. – Disse ela emburrada.
Quem achava que Jin era uma menina delicada se enganava totalmente. Ela era toda pequena e fofa, mas era mais sacana e falava mais palavrão que 10 meninos juntos. Não que isso me incomodasse. Na maioria das vezes, ela usava palavrões pra exclamar, não pra xingar. Como “Puta que pariu, não acredito!”. E quando ela xingava era de brincadeira, todo mundo sabia disso. Ela realmente amava muito aquele “ruivinho de merda”.
- Não é culpa minha, ela me deixou nervoso ta, japoca estressada? – revidou ele rindo.
- Japoca é sua avó. Eu sou uma chinesoca sensual. – Ela mostrou a língua e depois piscou pra ele, gargalhando. Era impossível não gostar da Jin.
Aquele foi com certeza um dos dias mais lindos de toda a minha vida.
- Já vou avisando tchutchucão: trouxe minhas malas e minhas cuias. Enfiei tudo no seu guarda roupa e vou dormir aqui. Minha família tá toda do outro lado do mundo e voltei dois dias antes só pra ver você, portanto sinta-se feliz! - disse-me Jin.
Não respondi. Apenas dei um abraço demorado nela, pra mostrar o quanto eu estava feliz que aquilo fosse verdade, que ela estivesse mesmo ali.
Ficamos nós três o resto da tarde conversando e nos entupindo de refrigerante. Quando o Caio foi embora, fomos até o meu quarto conversar.
- Má, eu não queria mencionar isso, massss... hm... eu soube o que aconteceu com o Frederico.
Eu não respondi. Apenas olhei pra baixo.
- É... é isso.
- Eu... sinto muito, tchu.
- Não sinta. - eu disse controlando as lágrimas - ele está vivo. É o que importa.
- Antes de chegar aqui na sua casa... Eu fui até o hospital ver o Frederico. Foi de manhã, você ainda estava lá, mas como eu queria que minha presença fosse uma surpresa pra você, não fui te ver.
- Tudo bem, Jin - eu sorri - o que ele disse?
- Que ficou muito feliz em poder ver alguém de quem ele se lembre.
Silêncio.
- Desculpe por isso, Má. Eu tinha que dizer.
- Ok.
Silêncio novamente.

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