Ela abriu a porta, e eu ainda não podia ver seu rosto, porque ele estava deitado.
- Frederico, se lembra da moça que eu disse que ia trazer pra conversar com você? Ela está aqui!
- Graças a Deus! Já não aguentava mais ficar sem saber. de nada! - ao ouvir a voz dele, mesmo que não pudesse ver seu rosto, estremeci. Me faltou coragem pra continuar, mas respirei fundo.
Fui entrando devagar, lutando contra as lágrimas e a vontade de me levantar daquela cadeira e pular na cama com ele, como fazíamos quando ele era o meu Frederico.
- Vou deixar vocês sozinhos. - Marcele, minha querida, entre por favor!
Ela saiu. Eu empurrei a cadeira devagar pra dentro do quarto.
Quando fui entrando no quarto, Tereza passou por mim e piscou um olho. Eu me aproximei, e então pude ver: ele estava como eu me lembrava dele. Os seus olhos castanhos pequenos ainda eram os mesmos, assim como a pele branquinha, os cabelos encaracolados castanhos e a pintinha que ele tinha um pouco abaixo do olho.
Ao ver seu rosto, congelei. Eu sabia que se fosse mesmo o meu Fred ali, ele viria correndo pro meu lado e me abraçaria até e sufocar, me perguntando se eu estava bem de 5 em 5 segundos. Mas ele não fez nada disso. Só continuou deitado me olhando com cara de dúvida. No fundo eu sabia que ele não ia mesmo fazer nada daquilo. Mas ver a confirmação assim, na frente dos meus olhos doeu muito mais. Lutei mais um pouco com as lágrimas e fui empurrando a cadeira até chegar ao lado de sua cama. Tive vontade de passar a mão pelo seu rosto, mas lembrei-me do que Tereza disse: "Ele não te conhece, Marcele. Nada de demonstrações de afeto! Imagine se uma pessoa que você nunca viu na vida chega te abraçando ou beijando? Você iria se assustar, tenho certeza." Então me controlei e segui em frente. Dei o melhor sorriso que pude e olhei pra ele.
- Oi Fred...erico! - Eu estava tão acostumada a chamá-lo de Fred, que quase me esqueci que ele gostava que apenas os mais íntimos o chamassem assim.
- Oi tia...
TIA? como assim tia? "Então era assim que você chamava as pessoas quando tinha 16 anos? TIA?" tive vontade de perguntar mas contive-me.
- Erhm... Meu nome é Marcele. E por favor não me chame de tia - fiz beicinho sem querer.
- Tá legal, hm... Marcele. Enfim, a Tereza disse que você ia me explicar essa doideira toda. Fala aí.
"essa doideira toda? FALA AÍ???"
Um minuto. Esse não era o Frederico. Ele não falava desse jeito, e não era tão direto. Meu Deus, agora eu sabia: ele era um adolescente muito direto.
- T-tá... tudo bem. Primeiro me conta, Fred...erico. - vacilei de novo - Onde você estava antes de... você sabe, chegar aqui.
- Ora, eu estava em casa! Tinha acabado de voltar da minha festa de aniversário de 16 anos. Aí acordei nessa cama, todo ralado, dolorido e com essa merda de curativo na cabeça. E todo mundo fica me dizendo que vai contar o que aconteceu, mas não falam PORRA nenhuma!! - percebi naquele instante que ele não era mesmo o meu Fred. Se fosse nao diria nada daquilo. "porra nenhuma? merda de curativo?" Não era ele. A sensação de vazio me atingiu de novo, e de ter perdido ele pra sempre. Dessa vez não consegui segurar. Uma lágrima solitária e quente desceu pela minha face, e logo sequei-a com a manga da camiseta.
- Porque diabos você está chorando?
- É que, Frederico... O que eu tenho pra te contar é muito difícil. - menti. Eu estava chorando porque sabia que ele nunca mais seria meu de novo.
- Então o que está esperando?
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