quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Decisões e conclusões.

Tereza entrou no meu quarto um pouco apreensiva. Eu estava imersa nos meus pensamentos então me assustei.
- Minha querida... Eu hm... Não devia permitir isso, mas... Alguém aí fora que falar com você. – Ela piscou o olho pra mim e fez uma cara compadecida.
Eu sabia muito bem quem queria me ver. Não era necessário perguntar. Então apenas consenti com a cabeça. Também queria muito vê-lo.
Tereza se retirou cochichando um “seja forte” e deixou o extinto homem da minha vida entrar no quarto. Ele estava andando, e não precisava de uma droga de cadeira de rodas como eu. Mas isso não importava. Eu sabia que ele estava assustado com a revelação, por isso tinha me tratado daquela forma. Se ele me xingasse dos nomes mais feios do mundo, ainda assim seria perdoado. Só eu sabia o quanto amava esse adolescente cabeça-dura e boca-suja.
Não que ele fosse cabeça-dura ou boca-suja antes do acidente. Ele era o garoto mais educado que já conheci na vida. Do tipo que te dá flores e abre a porta do carro. É claro que quando o conheci ele já tinha quase 18. Agora ele tinha acabado de fazer 16. Eu não imaginava que ele fosse tão rebelde aos 16 anos. Era quase inacreditável. Mas ele ia voltar a ser o que era antes, eu tinha certeza e fé. Meu Fred ia voltar pra mim, ah se ia.
Ele entrou no quarto mexendo no cabelo, como fazia sempre antes do acidente. Ver aquele gesto me deu um pouco de ânimo. Só fortaleceu a ideia de que em algum lugar dentro daquela pessoa estranha na minha frente estava alguém que eu amava. Ele se aproximou um pouco vermelho e sentou-se ao lado da cama onde eu estava sentada.
- E então, Marcele...?
- E então?
- Eu quero dizer, erhm... me deeeee...
- hm?
- Desculpe! É isso, foi mal. É que não foi nada fácil pra mim, e não é até hoje. Saber que eu vivi e não lembro da minha própria... vida! Ninguém nunca vai saber como é... – Eu vi seus olhos se enchendo de lágrimas, e ele rapidamente as limpando com palma da mão.
Eu sabia que se o meu Fred estivesse ali ele choraria. O Fred não tinha vergonha de chorar. Mas o Frederico matava o Fred a todo instante. Ele o reprimia e não deixava o seu passado respirar. Era por isso que ele não estava lembrando de nada.
- Não Frederico, você não precisa pedir desculpas. E sim, eu sei muito bem como é.
Ele olhou-me desconfiado e disse:
- Hm, até hoje eu não sei porque você. Porque minha mãe não me disse nada, os médicos não disseram nada... Não entendo porque eles queriam que você dissesse. Eu não... Conheço você. Não sei o que você era na minha vida.
- Olha Frederico...
- Eu sei que você era importante pra mim. Eu sinto isso, de algum jeito. ”Eu não entendo o que acontece, mas quando estou com você sinto uma coisa crescendo dentro de mim, me dá vontade de gritar.”

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