- Está pronta pra ouvir as "instruções", Marcele? - Perguntou.
- Quando quiser.
- Tudo bem, minha querida. Agora vou te explicar a real situação do Frederico, está bem? Os pais dele estão colaborando, nessa fase difícil em que ele pensa ainda ter 16 anos de idade quando na verdae tem 18. A regra número um é: não mentir pra ele em hipótese alguma. Não inventar situações que não aconteceram nem nada do gênero. Regra número dois: não contar TODA verdade a ele. - ela deu uma ênfase no TODA. - Você não pode simplesmente chegar no quarto e dizer: "Olá Frederico, tudo bem? Eu sou sua namorada e estava com você no dia do acidente, uma pena não é?". Ele iria te olhar com cara de "hã"? O frederico ainda não sabe o que aconteceu. Não sabe que perdeu a memória nem o que faz aqui. a mãe fica com ele o tempo todo dizendo que logo ele vai saber. Ela quer que você conte. O Frederico está muito confuso, por isso é importante contar o mais rápido possível. O que estou tentando te ensinar é a form CERTA de contar, você entende?
Fiz que sim com a cabeça e ela continuou falando.
- Você vai entrar no quarto e primeiramente dizer "oi", e perguntar o que houve com ele, e deixá-lo contar sua história. Depois diga que também tem uma história pra contar. Explique a ele o que aconteceu...
Tereza falou, falou e repetiu várias vezes até que eu tivesse entendido. Eu entendi. Não ia ser nem de longe uma tarefa fácil. Eu tinha certeza que ao ver o Fred eu ia ter vontade de abraçá-lo, beijá-lo e niná-lo no meu colo até ter certeza que ele estivesse bem, embora Tereza tivesse me instruído a não fazer isso em hipótese nenhuma se quisesse que ele se curasse. Eu estava decidida a me controlar. Pelo bem do Frederico e pela paz da minha alma. Eu não consegui dormir. Fiquei apenas deitada em minha cama pensando em tudo que iria dizer. Eram 9:32 da manhã quando Tereza veio me chamar. Frederico tinha finalmente acordado.
Ela me ajudou a tirar a camisolinha de hospital, e vestir uma roupa decente, com uma blusa de frio laranja e uma calça de moletom larguinha. Fiz um coque frouxo no cabelo. Era como ele estava acostumado a me ver sempre.
Com muito cuidado ela me colocou numa cadeira de rodas, visto que seria impossível que eu caminhasse dois dias depois de fazer uma cirurgia nas pernas.
Tereza fiou comigo o tempo todos, e foi arrastando minha cadeira pelos corredores do hospital. Quando paramos em uma porta e ela disse "é aqui", não é possível explicar os sentimentos que invadiram.
Fiquei com medo de não conseguir dizer o que tinha que dizer, e imensamente feliz por finalmente poder ver o seu rosto de novo.
- Seja forte, minha querida. Tenho fé em você,e sei que vai conseguir. Coragem!
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Capitulo 2 - Tentativa e Frustação
Quando acordei, estava num lugar diferente. Agora eu tinha um travesseiro,e minha perna não estava mais pendurada, e não doía tanto. Me senti relativamente bem, só estava um pouco enjoada. Não conseguia acreditar ainda no que Tereza tinha dito, acreditei que fosse um sonho. Quando acordei e me mexi, um fio que estava preso na minha perna se mexeu também e acionou uma luz vermelha que piscou. Logo Tereza entrou no quarto e me peguntou como eu me sentia.
- Quero ver o Fred. - Eu não estava brincando. Seria capaz de arrancar todos os fios que me prendiam a aquela cama, rasgar toda a minha pele e sair correndo pelo hospital com meio quilo de gesso na perna pra vê-lo. Eu precisava.
Tereza suspirou profundamente antes de fazer um sim com a cabeça.
- Mas você não pode ir agora. São 6:00h da manhã do dia 16 querida, e ele está dormindo. Você foi operada as 22:00h do dia 14 e dormiu o dia todo ontem. O Frederico costuma acordar entre nove e dez da manhã. Mas fique calma. Eu não vou te tirar o direito de vê-lo. Assim que ele acordar eu te levo lá.
- Obrigada.
- Tenho boas notícias pra você, sobre o caso do Frederico. Mas não quero lhe dar falsas esperanças, ok?
Aquelas palavras foram mágicas. Recuperei na hora a vontade de viver e o brilho no olhar. Perguntei animada:
- Ele vai se curara, Tereza?
- Não é bem assim, Marcele. Como eu te disse, fizemos a cirurgia e as melhoras foram consideráveis. Ele contou a uma das nossas enfermeiras que estava tendo pesadelos com um acidente. Ele disse que se via dirigindo uma moto, e de repente bateu de cabeça na calçada. Nós nem ao menos tinhamos descrito o acidente pra ele. Mas ele disse que foram só flashes, e que estava assustado. Ele pensa que tem 16 anos, Marcele. Como eu disse, ele apagou os ultimos dois anos da cabeça. A ultima coisa de que ele se lembra é dos eu aniversário de 16 anos.
- Ele se lembrou do... acidente? Isso significa que ele vai lembrar de tudo, não é? - Sorri de orelha a orelha.
- Desculpe dizer isso, mas não. A chances dele recuperar a memória, que eram de 7% aumentaram para 9%. É um percentual ainda muito pequeno, Marcele. Ele pode ter alguns flashes mais é perigoso. Ele não vai entender do que está se lembrando, e pode entrar em depressão. Contudo, eu não te contei um detalhe: Ele descreve o acidente, mas diz que se vê na moto sozinho. Não tinha mais ninguém com ele.
Senti de novo aquela dor, aquele desconforto. Não era justo. Pensei em tentar contar tudo a ele, mas parece que Tereza adivinhou meus pensamentos e disse:
- Contar a ele não vai adiantar, Marcele. Ele tem que se lembrar naturalmente. Se você disser, ele pode entrar em depressão profunda por não entender. Aquela não será a vida dele. Achamos melhor não dizer nada ainda. Deixamos essa tarefa pra você. Vocês tem uma ligação muito forte. Logo voltarei aqui pra te instruir sobre o que você deve e não deve dizer. Agora vou buscar algo pra você comer. Você não come há mais de 30 horas sabia? Deve estar faminta! Volto em um instante.
Tereza voltou ao meu quarto pouco tempo depois, como havia prometido. Trouxe com ela a comida de hospital sem sal que eu sempre detestei. Mas como toda comida é boa quando se está com fome, acabei comendo tudo. Ela me olhava com um sorriso de aprovação no rosto. Depois que terminei, ela colocou o prato na mesa ao lado da cama e sentou-se num pufe, olhando-me nos olhos.
- Quero ver o Fred. - Eu não estava brincando. Seria capaz de arrancar todos os fios que me prendiam a aquela cama, rasgar toda a minha pele e sair correndo pelo hospital com meio quilo de gesso na perna pra vê-lo. Eu precisava.
Tereza suspirou profundamente antes de fazer um sim com a cabeça.
- Mas você não pode ir agora. São 6:00h da manhã do dia 16 querida, e ele está dormindo. Você foi operada as 22:00h do dia 14 e dormiu o dia todo ontem. O Frederico costuma acordar entre nove e dez da manhã. Mas fique calma. Eu não vou te tirar o direito de vê-lo. Assim que ele acordar eu te levo lá.
- Obrigada.
- Tenho boas notícias pra você, sobre o caso do Frederico. Mas não quero lhe dar falsas esperanças, ok?
Aquelas palavras foram mágicas. Recuperei na hora a vontade de viver e o brilho no olhar. Perguntei animada:
- Ele vai se curara, Tereza?
- Não é bem assim, Marcele. Como eu te disse, fizemos a cirurgia e as melhoras foram consideráveis. Ele contou a uma das nossas enfermeiras que estava tendo pesadelos com um acidente. Ele disse que se via dirigindo uma moto, e de repente bateu de cabeça na calçada. Nós nem ao menos tinhamos descrito o acidente pra ele. Mas ele disse que foram só flashes, e que estava assustado. Ele pensa que tem 16 anos, Marcele. Como eu disse, ele apagou os ultimos dois anos da cabeça. A ultima coisa de que ele se lembra é dos eu aniversário de 16 anos.
- Ele se lembrou do... acidente? Isso significa que ele vai lembrar de tudo, não é? - Sorri de orelha a orelha.
- Desculpe dizer isso, mas não. A chances dele recuperar a memória, que eram de 7% aumentaram para 9%. É um percentual ainda muito pequeno, Marcele. Ele pode ter alguns flashes mais é perigoso. Ele não vai entender do que está se lembrando, e pode entrar em depressão. Contudo, eu não te contei um detalhe: Ele descreve o acidente, mas diz que se vê na moto sozinho. Não tinha mais ninguém com ele.
Senti de novo aquela dor, aquele desconforto. Não era justo. Pensei em tentar contar tudo a ele, mas parece que Tereza adivinhou meus pensamentos e disse:
- Contar a ele não vai adiantar, Marcele. Ele tem que se lembrar naturalmente. Se você disser, ele pode entrar em depressão profunda por não entender. Aquela não será a vida dele. Achamos melhor não dizer nada ainda. Deixamos essa tarefa pra você. Vocês tem uma ligação muito forte. Logo voltarei aqui pra te instruir sobre o que você deve e não deve dizer. Agora vou buscar algo pra você comer. Você não come há mais de 30 horas sabia? Deve estar faminta! Volto em um instante.
Tereza voltou ao meu quarto pouco tempo depois, como havia prometido. Trouxe com ela a comida de hospital sem sal que eu sempre detestei. Mas como toda comida é boa quando se está com fome, acabei comendo tudo. Ela me olhava com um sorriso de aprovação no rosto. Depois que terminei, ela colocou o prato na mesa ao lado da cama e sentou-se num pufe, olhando-me nos olhos.
- Ele não se lembra mais de mim, não é? – Perguntei a Tereza.
Ela fez que não com a cabeça e deixou escapar uma lágrima solitária. Tereza estava sofrendo junto comigo.
Então eu comecei a chorar. Eu gritava urrava, a dor mais profunda que eu já tinha sentido. Eu tinha morrido. Eu tinha morrido pra pessoa que eu mais amava. Ninguém nunca vai saber como é. Chorei tanto que Tereza ficou com medo de eu bater minha perna e mandou me sedar até a hora da operação. Não me lembro de mais nada.
Ela fez que não com a cabeça e deixou escapar uma lágrima solitária. Tereza estava sofrendo junto comigo.
Então eu comecei a chorar. Eu gritava urrava, a dor mais profunda que eu já tinha sentido. Eu tinha morrido. Eu tinha morrido pra pessoa que eu mais amava. Ninguém nunca vai saber como é. Chorei tanto que Tereza ficou com medo de eu bater minha perna e mandou me sedar até a hora da operação. Não me lembro de mais nada.
Lembranças & mais lembranças.
- Ele apagou por completo os últimos dois anos de sua mente.
Eu não consegui dizer nada. Minha boca estava aberta e meus olhos cheios d’água. Fiquei ali, parada pensando no nada por alguns instantes, sentindo uma dor horrível, algo se quebrando dentro de mim. Senti uma coisa que jamais achei que seria capaz de sentir: a dor da perda, o desespero do abandono. Naquele instante senti algo morrendo dentro de mim. Foi a pior sensação que tive na vida. Um sentimento de impotência me invadiu. Aquilo tinha acontecido com o Fred e eu não pude fazer nada para impedir. Ninguém nunca na vida vai sentir alguma coisa parecida. Lembranças me invadiram e eu não pude fazer absolutamente nada. Veio o torpor, depois um formigamento estranho, e estava feito. Eu era nostalgia.
Veio-me a cabeça o pedido de namoro, que tinha acontecido há um ano. Lembrei-me de como Fred estava vestido, e do seu antigo corte de cabelo.
”Era uma noite de sexta e o céu estava estrelado. Estávamos no parque de diversão, e o Fred me convidou pra ir com ele na roda gigante. Subimos, eu com um algodão doce enorme na mão. Depois de algumas voltas, paramos bem alto. Foi quando ele olhou pra mim com os olhos brilhando e disse:
- Você é o que eu quero pra mim, Má. Eu não entendo o que acontece, mas quando estou com você sinto uma coisa crescendo dentro de mim, me dá vontade de gritar. O que eu sinto por você é totalmente impossível de ser descrito. Deixa eu te fazer feliz, Marcele. – Ele tirou um anelzinho de prata do bolso e colocou na palma da minha mão – Deixa eu te mostrar que posso ser bom pra você. Namora comigo, pequena.
Eu não consegui dizer nada e com lágrimas de felicidade nos olhos coloquei a aliança no meu próprio dedo e o beijei apaixonadamente. Depois que a roda voltou a girar ele me abraçou e disse um “Eu te amo” no meu ouvido que me fez ficar arrepiada.”
Comecei então a me lembrar de um piquenique, quando tínhamos 2 meses de namoro.
”Estávamos sentados numa toalha xadrez com uma cesta cheia de comida ao lado como nos filmes, ou contos de fada. Ríamos e nos beijávamos como duas crianças que estão comendo doce escondido dos pais. Fred passou o dedo na calda de chocolate do bolo e depois mo meu nariz.
- Palhaço! – Eu disse rindo antes de acertar-lhe um soquinho na barriga.
Ele riu e beijou a ponta do meu nariz, depois me deu um selinho, antes de passar uma mão inteira cheia de calda no meu rosto.
- Você seria uma mulata muito sensual – Ele disse mordendo o canto da boca.
Mandei o dedo do meio pra ele e lambuzei seu rosto também. Ficamos rindo até o final da tarde, quando tivemos que sair andando pelo parque melados de chocolate pra ir lavar o rosto, rindo muito. Parecíamos dois retardados.”
Lembrei-me naquele instante das vezes em que eu brigava com a minha mãe e ia correndo pra casa dele. Veio-me uma coisa que ele tinha me dito uma vez numa ocasião dessas.
”Hey, olha pra mim, Má. Não importa se você brigar com a sua mãe, ou com quem quer que seja. EU vou estar aqui pra te proteger e te impedir de fazer o que é errado. Nada mais importa pra mim, pequena. É por você que eu vivo, e se você está triste, eu também estou. Se um dia você morrer, eu vou junto com você. Você pode ter quanto namorados quiser e me esquecer pra sempre. Mas eu NUNCA vou te esquecer. Eu vou me lembrar de você até o fim da minha vida, não importa o que aconteça. Eu prometo.” As lembranças estavam acabando comigo.
Eu não consegui dizer nada. Minha boca estava aberta e meus olhos cheios d’água. Fiquei ali, parada pensando no nada por alguns instantes, sentindo uma dor horrível, algo se quebrando dentro de mim. Senti uma coisa que jamais achei que seria capaz de sentir: a dor da perda, o desespero do abandono. Naquele instante senti algo morrendo dentro de mim. Foi a pior sensação que tive na vida. Um sentimento de impotência me invadiu. Aquilo tinha acontecido com o Fred e eu não pude fazer nada para impedir. Ninguém nunca na vida vai sentir alguma coisa parecida. Lembranças me invadiram e eu não pude fazer absolutamente nada. Veio o torpor, depois um formigamento estranho, e estava feito. Eu era nostalgia.
Veio-me a cabeça o pedido de namoro, que tinha acontecido há um ano. Lembrei-me de como Fred estava vestido, e do seu antigo corte de cabelo.
”Era uma noite de sexta e o céu estava estrelado. Estávamos no parque de diversão, e o Fred me convidou pra ir com ele na roda gigante. Subimos, eu com um algodão doce enorme na mão. Depois de algumas voltas, paramos bem alto. Foi quando ele olhou pra mim com os olhos brilhando e disse:
- Você é o que eu quero pra mim, Má. Eu não entendo o que acontece, mas quando estou com você sinto uma coisa crescendo dentro de mim, me dá vontade de gritar. O que eu sinto por você é totalmente impossível de ser descrito. Deixa eu te fazer feliz, Marcele. – Ele tirou um anelzinho de prata do bolso e colocou na palma da minha mão – Deixa eu te mostrar que posso ser bom pra você. Namora comigo, pequena.
Eu não consegui dizer nada e com lágrimas de felicidade nos olhos coloquei a aliança no meu próprio dedo e o beijei apaixonadamente. Depois que a roda voltou a girar ele me abraçou e disse um “Eu te amo” no meu ouvido que me fez ficar arrepiada.”
Comecei então a me lembrar de um piquenique, quando tínhamos 2 meses de namoro.
”Estávamos sentados numa toalha xadrez com uma cesta cheia de comida ao lado como nos filmes, ou contos de fada. Ríamos e nos beijávamos como duas crianças que estão comendo doce escondido dos pais. Fred passou o dedo na calda de chocolate do bolo e depois mo meu nariz.
- Palhaço! – Eu disse rindo antes de acertar-lhe um soquinho na barriga.
Ele riu e beijou a ponta do meu nariz, depois me deu um selinho, antes de passar uma mão inteira cheia de calda no meu rosto.
- Você seria uma mulata muito sensual – Ele disse mordendo o canto da boca.
Mandei o dedo do meio pra ele e lambuzei seu rosto também. Ficamos rindo até o final da tarde, quando tivemos que sair andando pelo parque melados de chocolate pra ir lavar o rosto, rindo muito. Parecíamos dois retardados.”
Lembrei-me naquele instante das vezes em que eu brigava com a minha mãe e ia correndo pra casa dele. Veio-me uma coisa que ele tinha me dito uma vez numa ocasião dessas.
”Hey, olha pra mim, Má. Não importa se você brigar com a sua mãe, ou com quem quer que seja. EU vou estar aqui pra te proteger e te impedir de fazer o que é errado. Nada mais importa pra mim, pequena. É por você que eu vivo, e se você está triste, eu também estou. Se um dia você morrer, eu vou junto com você. Você pode ter quanto namorados quiser e me esquecer pra sempre. Mas eu NUNCA vou te esquecer. Eu vou me lembrar de você até o fim da minha vida, não importa o que aconteça. Eu prometo.” As lembranças estavam acabando comigo.
Memórias apagadas.
- E ele está. Eu não menti. Pra ele a vida continua a mesma. Mas pra você, minha querida muita coisa mudou.
Minha vista tinha escurecido e eu estava começando a ficar com falta de ar. Que diabos Tereza queria dizer com aquilo?
- Se acalme, Marcele. Eu vou te dizer o que você quer, mas só se me prometer que não vai ter um ataque do coração! – Eu achei que ela estivesse brincando. Não estava.
- Eu estou bem, estou bem – menti – o que houve com ele? Por favor, não esconde nada de mim.
- Está bem... Mas você vai ter que ser forte. Marcele, lembra que eu te disse que ele tinha caído de cabeça na guia da calçada? A pancada foi forte. Ele ficou inconsciente e chegou aqui com um quadro grave. Pela descrição do acidente, achamos que ele iria morrer. Foi quando fizemos todos os exames necessários e descobrimos que o quadro era sim grave, mas ele não corria risco. O Frederico teve... Sorte. Se é que se pode chamar o que aconteceu com ele de sorte.
- Seja mais objetiva por favor! – Ordenei.
- Ele esteve mais perto da morte do que você imagina. Um centímetro a mais teria o matado. A caixa craniana dele trincou, e se afundou, “amassando” uma área do cérebro dele.
- Que área, meu deus? – Eu estava aterrorizada.
- A responsável pela memória.
Ela não disse mais nada e deu-me alguns minutos para absorver a informação. A área da... memória? O que ela queria dizer com isso? Eu devo ter feito uma careta bem feia, porque ela olhou-me com cara de sofrimento, parecendo culpar-se por ter que contar aquilo pra mim.
- E o que isso significa? – Lutei para engolir o choro e fazer uma cara séria.
- Assim que ele chegou aqui o levamos para a sala de cirurgia pra “desamassar” sua caixa craniana e remover possíveis fragmentos no cérebro. Ele acordou hoje, por volta de meio dia. Está muito fraco.
- O que isso significa? – Repeti, cortando sua fala.
Tereza ignorou-me completamente e continuou falando
- Ele não quer comer. Tentamos conversar com ele, mas ele está assustado. Não sabe porque está aqui, não se lembra do acidente.
- O QUE ISSO SIGNIFICA? – Gritei desesperada.
Tereza suspirou vencida. Abaixou a cabeça antes de me responder.
Minha vista tinha escurecido e eu estava começando a ficar com falta de ar. Que diabos Tereza queria dizer com aquilo?
- Se acalme, Marcele. Eu vou te dizer o que você quer, mas só se me prometer que não vai ter um ataque do coração! – Eu achei que ela estivesse brincando. Não estava.
- Eu estou bem, estou bem – menti – o que houve com ele? Por favor, não esconde nada de mim.
- Está bem... Mas você vai ter que ser forte. Marcele, lembra que eu te disse que ele tinha caído de cabeça na guia da calçada? A pancada foi forte. Ele ficou inconsciente e chegou aqui com um quadro grave. Pela descrição do acidente, achamos que ele iria morrer. Foi quando fizemos todos os exames necessários e descobrimos que o quadro era sim grave, mas ele não corria risco. O Frederico teve... Sorte. Se é que se pode chamar o que aconteceu com ele de sorte.
- Seja mais objetiva por favor! – Ordenei.
- Ele esteve mais perto da morte do que você imagina. Um centímetro a mais teria o matado. A caixa craniana dele trincou, e se afundou, “amassando” uma área do cérebro dele.
- Que área, meu deus? – Eu estava aterrorizada.
- A responsável pela memória.
Ela não disse mais nada e deu-me alguns minutos para absorver a informação. A área da... memória? O que ela queria dizer com isso? Eu devo ter feito uma careta bem feia, porque ela olhou-me com cara de sofrimento, parecendo culpar-se por ter que contar aquilo pra mim.
- E o que isso significa? – Lutei para engolir o choro e fazer uma cara séria.
- Assim que ele chegou aqui o levamos para a sala de cirurgia pra “desamassar” sua caixa craniana e remover possíveis fragmentos no cérebro. Ele acordou hoje, por volta de meio dia. Está muito fraco.
- O que isso significa? – Repeti, cortando sua fala.
Tereza ignorou-me completamente e continuou falando
- Ele não quer comer. Tentamos conversar com ele, mas ele está assustado. Não sabe porque está aqui, não se lembra do acidente.
- O QUE ISSO SIGNIFICA? – Gritei desesperada.
Tereza suspirou vencida. Abaixou a cabeça antes de me responder.
Horror a cirurgias;
- Certo. A ruim é que os ossos da sua perna não tem “forças” pra se juntarem sozinhos sem causar dor.
Fiquei de boca aberta. Como é que é? Eu ia ficar com aquela dor pra sempre? Logo que Tereza sorriu, entendi que não.
- E a boa é que uma pessoa doou pra sua mãe o dinheiro pra fazer uma cirurgia na sua perna e colocar um pino aí, pra você voltar a andar e não sentir mais dor! Não é ótimo?
NÃÃÃÃO! COM MIL DEMÔNIOS, NÃO ERA ÓTIMO! A verdade é que eu tinha... medo de cirurgia. E não era medinho, era medo. Medão mesmo. Não conseguia pensar na ideia de ter um pino de ferro, metal, aço, alumínio, plástico ou qualquer outra coisa dentro de mim pra sempre. É claro que eu não disse nada. Era a cirurgia ou continuar com a dor. OU pior ainda: ter que passar mais tempo deitada numa cama. Não pensei duas vezes: PINO, PINO!
Queria perguntar quem tinha sido o infeliz doador do dinheiro. Mas pensei melhor e decidi tirar o “infeliz” da frase.
- Quem foi o doador do dinheiro?
- Hmmm, deixa eu procurar o nome aqui... Ahá! O seu anjo se chama Caio Almeida Passaglia.
NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO! UM MILHÃO DE VEZES NÃO!
Eu queria tudo, menos aquilo. O diabo poderia ter doado, eu não me importaria. Mas o Caio não! Ele tinha entrado no colégio no ano passado, e desde então não largou do meu pé. E não estou dizendo isso da boca pra fora. O Caio não tinha nada de muito especial. Ele tinha cabelos ruivos encaracolados e curtos, algumas sardas e olhos verdes. Nada de atraente. Não pra mim, pelo menos. Não que nós não fôssemos amigos. Eu gostava dele e gostava muito. Mas essa mania de querer me namorar, e dizer coisas românticas irritava. Eu não queria nada com ele, e era bom que ele entendesse isso logo de uma vez.
Agora o Caio tinha simplesmente me doado uma fortuna pra uma cirurgia. Meu Deus! Ele ia me cobrar isso pro resto da vida! Tudo bem – tentei relaxar – pelo menos vou poder sair dessa cama o mais rápido possível. Já conformada perguntei:
- Ta legal... E que dia vamos colocar o... pino?
- Hoje mesmo. A cirurgia está marcada pras 22:00.
- Meu Deus! E que horas são?
- 18:32. Mas fique calma. Você vai se sentir muito melhor quando tivermos terminado.
- C-certo... Tereza... Quando eu vou poder ir ver o Fred?
- Não creio que seja uma boa ideia ir no estado em que você se encontra.
- Eu preciso falar com ele, preciso dar um abraço nele, preciso ter certeza de que ele tá bem, entende?
Fiquei de boca aberta. Como é que é? Eu ia ficar com aquela dor pra sempre? Logo que Tereza sorriu, entendi que não.
- E a boa é que uma pessoa doou pra sua mãe o dinheiro pra fazer uma cirurgia na sua perna e colocar um pino aí, pra você voltar a andar e não sentir mais dor! Não é ótimo?
NÃÃÃÃO! COM MIL DEMÔNIOS, NÃO ERA ÓTIMO! A verdade é que eu tinha... medo de cirurgia. E não era medinho, era medo. Medão mesmo. Não conseguia pensar na ideia de ter um pino de ferro, metal, aço, alumínio, plástico ou qualquer outra coisa dentro de mim pra sempre. É claro que eu não disse nada. Era a cirurgia ou continuar com a dor. OU pior ainda: ter que passar mais tempo deitada numa cama. Não pensei duas vezes: PINO, PINO!
Queria perguntar quem tinha sido o infeliz doador do dinheiro. Mas pensei melhor e decidi tirar o “infeliz” da frase.
- Quem foi o doador do dinheiro?
- Hmmm, deixa eu procurar o nome aqui... Ahá! O seu anjo se chama Caio Almeida Passaglia.
NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO! UM MILHÃO DE VEZES NÃO!
Eu queria tudo, menos aquilo. O diabo poderia ter doado, eu não me importaria. Mas o Caio não! Ele tinha entrado no colégio no ano passado, e desde então não largou do meu pé. E não estou dizendo isso da boca pra fora. O Caio não tinha nada de muito especial. Ele tinha cabelos ruivos encaracolados e curtos, algumas sardas e olhos verdes. Nada de atraente. Não pra mim, pelo menos. Não que nós não fôssemos amigos. Eu gostava dele e gostava muito. Mas essa mania de querer me namorar, e dizer coisas românticas irritava. Eu não queria nada com ele, e era bom que ele entendesse isso logo de uma vez.
Agora o Caio tinha simplesmente me doado uma fortuna pra uma cirurgia. Meu Deus! Ele ia me cobrar isso pro resto da vida! Tudo bem – tentei relaxar – pelo menos vou poder sair dessa cama o mais rápido possível. Já conformada perguntei:
- Ta legal... E que dia vamos colocar o... pino?
- Hoje mesmo. A cirurgia está marcada pras 22:00.
- Meu Deus! E que horas são?
- 18:32. Mas fique calma. Você vai se sentir muito melhor quando tivermos terminado.
- C-certo... Tereza... Quando eu vou poder ir ver o Fred?
- Não creio que seja uma boa ideia ir no estado em que você se encontra.
- Eu preciso falar com ele, preciso dar um abraço nele, preciso ter certeza de que ele tá bem, entende?
Revelações, part 2
- Segundo a polícia, aquele rapaz... Frederico né? Ele estava dirigindo alcoolizado e em alta velocidade quando a moto passou por um buraco na pista, e vocês caíram. Não aconteceu nada de muito grave contigo. Você caiu na grama, na ilha que havia dividindo a pista. Bateu a perna num poste, o que resultou numa fratura exposta bem feia, e um corte profundo. Foi sorte uma senhora ter ouvido o barulho do impacto e chamado a polícia e os bombeiros. Já o garoto...
- O que aconteceu com o Fred? – Perguntei aflita.
- Ele caiu da moto também, mas não teve a mesma sorte que você que “aterrissou” na grama. O menino bateu a cabeça na guia da calçada. Mas fora isso só teve alguns machucados nos braços e no rosto. Ele se ralou um pouco no asfalto, mas dê a ele duas semanas pra se recuperar dos arranhões e estará novo de novo! – Ela deu um sorriso amarelo e eu tive a certeza de que estava me escondendo algo.
- Você disse que ele... Ele bateu a cabeça?
- Sim.
- Ora, ninguém bate a cabeça na guia da calçada e fica sem sequelas! O que aconteceu? Ele está paraplégico, inconsciente, doente mental ou o quê?
- A área do cérebro que ele bateu na calçada não é responsável pelos movimentos nem nada parecido. Mas como você disse, ninguém escapa ileso. O que aconteceu com o Frederico não vai mudar nada na vida dele. Me desculpa minha querida, mas sua mãe me pediu pra não te dizer nada ainda. O que posso te garantir, é que para ele a vida não mudou nada. Se você se importa com a felicidade do Frederico, fique tranquila.
Ótimo, agora eu tinha notícias. Tereza tinha afirmado pra mim que ele estava bem, e era realmente o que me importava. Ele ainda podia andar, falar e raciocinar como era antes do acidente. O que mais eu podia querer?
- Você não está com fome? – Perguntou-me ela.
Fiz um sim com a cabeça e ela saiu pra buscar pra mim um arroz com legumes cozidos no vapor. Tinha gosto de comida de hospital, então não comi muito.
Quando Tereza voltou ao meu quarto tinha notícias, nem tão boas assim, pelo menos pra mim.
- Marcele, minha querida! Está se sentindo melhor?
- Minha perna ainda dói. – Disse emburrada.
- Tenho uma notícia boa e uma ruim pra te dar.
- Primeiro a ruim, por favor.
- O que aconteceu com o Fred? – Perguntei aflita.
- Ele caiu da moto também, mas não teve a mesma sorte que você que “aterrissou” na grama. O menino bateu a cabeça na guia da calçada. Mas fora isso só teve alguns machucados nos braços e no rosto. Ele se ralou um pouco no asfalto, mas dê a ele duas semanas pra se recuperar dos arranhões e estará novo de novo! – Ela deu um sorriso amarelo e eu tive a certeza de que estava me escondendo algo.
- Você disse que ele... Ele bateu a cabeça?
- Sim.
- Ora, ninguém bate a cabeça na guia da calçada e fica sem sequelas! O que aconteceu? Ele está paraplégico, inconsciente, doente mental ou o quê?
- A área do cérebro que ele bateu na calçada não é responsável pelos movimentos nem nada parecido. Mas como você disse, ninguém escapa ileso. O que aconteceu com o Frederico não vai mudar nada na vida dele. Me desculpa minha querida, mas sua mãe me pediu pra não te dizer nada ainda. O que posso te garantir, é que para ele a vida não mudou nada. Se você se importa com a felicidade do Frederico, fique tranquila.
Ótimo, agora eu tinha notícias. Tereza tinha afirmado pra mim que ele estava bem, e era realmente o que me importava. Ele ainda podia andar, falar e raciocinar como era antes do acidente. O que mais eu podia querer?
- Você não está com fome? – Perguntou-me ela.
Fiz um sim com a cabeça e ela saiu pra buscar pra mim um arroz com legumes cozidos no vapor. Tinha gosto de comida de hospital, então não comi muito.
Quando Tereza voltou ao meu quarto tinha notícias, nem tão boas assim, pelo menos pra mim.
- Marcele, minha querida! Está se sentindo melhor?
- Minha perna ainda dói. – Disse emburrada.
- Tenho uma notícia boa e uma ruim pra te dar.
- Primeiro a ruim, por favor.
Revelações, part 1
Fiz um não com a cabeça. Graças a Deus, ele estava vivo. Respirei aliviada e lancei o olhar pra mulher que tinha acompanhado minha mãe até o quarto, que tinha ficado calada até agora. Eu conseguia ler um nome no crachá que ela tinha pendurado na camiseta. TEREZA, assim, com letras maiúsculas. Ela se aproximou e sorriu.
- Dona Sônia, a senhora tem que descansar e comer alguma coisa agora. Pode deixar que eu vou cuidar direitinho da Marcele. - Ela piscou pra mim - Preciso conversar um pouco com ela.
Minha mãe assentiu e saiu do quarto, me deixando a sós com a enfermeira. Ela não era bonita, mas não podia ser chamada de feia. Devia ter uns 40 anos, a pele morena, sobrancelhas um pouco grossas e um sorriso de dentes bonitos.
O que lhe faltava em beleza sobrava em simpatia. Tereza sentou-se do meu lado, e abriu um sorriso enorme.
- E então Marcele, como você está se sentindo?
- Preocupada.
Ela riu e revirou os olhos.
- Eu quis dizer fisicamente.
- Ah sim... – Eu disse envergonhada – Hmm, minha perna dói muito. Arde e lateja. Estou com dor de cabeça e meu pescoço está doendo também. Não posso usar um travesseiro?
- É normal que sua perna esteja doendo. Você tem um corte e tanto aí sabia? Tivemos que dar alguns pontos e engessar. Sei que é incômodo, ainda mais quando se tem que ficar com os pés pra cima desse jeito. Em breve vamos soltar o seu pé dessa “cordinha” – Ela fez aspas com as mãos no ar – e ai vai parar de doer assim. Vou mandar trazer um analgésico pra você. Vai te livrar da dor de cabeça também. Ah, e vou pedir pra trazerem um travesseiro também, claro.
- Obrigada – eu tentei sorrir. – Hmmm, seu nome é Tereza não é? O que foi que aconteceu? Você sabe, ontem e tudo mais...
Ela respirou antes de responder, e chegou mais perto da cama.
- Dona Sônia, a senhora tem que descansar e comer alguma coisa agora. Pode deixar que eu vou cuidar direitinho da Marcele. - Ela piscou pra mim - Preciso conversar um pouco com ela.
Minha mãe assentiu e saiu do quarto, me deixando a sós com a enfermeira. Ela não era bonita, mas não podia ser chamada de feia. Devia ter uns 40 anos, a pele morena, sobrancelhas um pouco grossas e um sorriso de dentes bonitos.
O que lhe faltava em beleza sobrava em simpatia. Tereza sentou-se do meu lado, e abriu um sorriso enorme.
- E então Marcele, como você está se sentindo?
- Preocupada.
Ela riu e revirou os olhos.
- Eu quis dizer fisicamente.
- Ah sim... – Eu disse envergonhada – Hmm, minha perna dói muito. Arde e lateja. Estou com dor de cabeça e meu pescoço está doendo também. Não posso usar um travesseiro?
- É normal que sua perna esteja doendo. Você tem um corte e tanto aí sabia? Tivemos que dar alguns pontos e engessar. Sei que é incômodo, ainda mais quando se tem que ficar com os pés pra cima desse jeito. Em breve vamos soltar o seu pé dessa “cordinha” – Ela fez aspas com as mãos no ar – e ai vai parar de doer assim. Vou mandar trazer um analgésico pra você. Vai te livrar da dor de cabeça também. Ah, e vou pedir pra trazerem um travesseiro também, claro.
- Obrigada – eu tentei sorrir. – Hmmm, seu nome é Tereza não é? O que foi que aconteceu? Você sabe, ontem e tudo mais...
Ela respirou antes de responder, e chegou mais perto da cama.
Capítulo 1
- Marcele? - era a voz da minha mãe.
Ela chorava desesperada ao meu lado enquanto eu abria os olhos e respirava com dificuldade. Minha cabeça doía muito, e minhas pernas estavam latejando.
- Marcele minha filha! Você acordou! Você acordou! - Ela tentou dizer com a voz embargada.
Eu pisquei algumas vezes antes de abrir totalmente os olhos. Aquela claridade estava me cegando. Haviam várias luzes acima da minha cama e eu não estava deitada em travesseiro algum. Devia ser por isso que minha cabeça estava doendo tanto. Quando finalmente consegui olhar para minha mãe, ela pediu que eu fosse uma "boa menina", disse que voltava logo e saiu do quarto correndo. Aproveitei sua ausência pra tentar descobrir onde estava. Comecei a me lembrar da noite anterior, e da discussão com Fred. Oh meu Deus, Frederico! Será que ele estava bem? Pude notar que tinha a perna enfaixada e que ela estava suspensa por uma corda presa no teto, como nos desenhos. Estava realmente doendo muito. Quando minha mãe voltou, trouxe com ela uma mulher vestida de branco, de jaleco e mocassins cor de creme.
- Vai ficar tudo bem, minha querida! - minha mãe me tranquilizava.
E então tudo fez sentido. Finalmente entendi o que estava acontecendo. Eu olhava para minha mãe com o olhar desesperado e a boca aberta, recusando-me a acreditar nos fatos. Senti uma lágrima quente rolando pelas minhas bochechas e abri os braços. Minha mãe abraçou-me forte e ficamos as duas ali, num silêncio infinito. Minha cabeça doía, e me faltava o ar. Pensei em Frederico, imaginando se ele estaria bem, e sem querer a chorar alto e pesarosamente.
- Mãe, o Fred... ele tá bem? Quero ir ver ele mãe, me leva até lá, por favor - eu implorava com a voz embargada.
- Shhhh, Marcele, agora não é hora pra pensar nisso. Fica calma minha filha. Ele tá vivo e não corre nenhum risco, mas tá dormindo agora. Você não ia querer acordá-lo não é?
Ela chorava desesperada ao meu lado enquanto eu abria os olhos e respirava com dificuldade. Minha cabeça doía muito, e minhas pernas estavam latejando.
- Marcele minha filha! Você acordou! Você acordou! - Ela tentou dizer com a voz embargada.
Eu pisquei algumas vezes antes de abrir totalmente os olhos. Aquela claridade estava me cegando. Haviam várias luzes acima da minha cama e eu não estava deitada em travesseiro algum. Devia ser por isso que minha cabeça estava doendo tanto. Quando finalmente consegui olhar para minha mãe, ela pediu que eu fosse uma "boa menina", disse que voltava logo e saiu do quarto correndo. Aproveitei sua ausência pra tentar descobrir onde estava. Comecei a me lembrar da noite anterior, e da discussão com Fred. Oh meu Deus, Frederico! Será que ele estava bem? Pude notar que tinha a perna enfaixada e que ela estava suspensa por uma corda presa no teto, como nos desenhos. Estava realmente doendo muito. Quando minha mãe voltou, trouxe com ela uma mulher vestida de branco, de jaleco e mocassins cor de creme.
- Vai ficar tudo bem, minha querida! - minha mãe me tranquilizava.
E então tudo fez sentido. Finalmente entendi o que estava acontecendo. Eu olhava para minha mãe com o olhar desesperado e a boca aberta, recusando-me a acreditar nos fatos. Senti uma lágrima quente rolando pelas minhas bochechas e abri os braços. Minha mãe abraçou-me forte e ficamos as duas ali, num silêncio infinito. Minha cabeça doía, e me faltava o ar. Pensei em Frederico, imaginando se ele estaria bem, e sem querer a chorar alto e pesarosamente.
- Mãe, o Fred... ele tá bem? Quero ir ver ele mãe, me leva até lá, por favor - eu implorava com a voz embargada.
- Shhhh, Marcele, agora não é hora pra pensar nisso. Fica calma minha filha. Ele tá vivo e não corre nenhum risco, mas tá dormindo agora. Você não ia querer acordá-lo não é?
Você se lembra quando olha nos meus olhos?
Sinopse: O que você faria se ao mesmo perdesse a melhor amiga, tivesse que fugir de um apaixonado e visse a pessoa que você mais ama sofrendo? E se essa pessoa simplesmente se esquecesse de você? Descubra como Marcele, uma jovem forte e determinada lidou com esse turbilhão de sentimentos. Será que o amor pode ser a cura pra um mistério que a ciência ainda não conseguiu explicar?
Prefácio:
- Fred, pelo amor de Deus vai devagar!
- Tá com medo, gatinha?
- Não Frederico, mas você tá correndo muito! Não seja estúpido, por favor. Pára essa moto, por mim.
- Relaxa, gata. Tá comigo, tá com Deus.
- Você é louco, tá bêbado e sem capacete! Pára agora, eu quero descer!
Ele não parou. Acelerou mais.
Meu coração batia forte enquanto Frederico corria noite adentro. Ele estava visivelmente bêbado. Discutimos, e quando eu comecei a chorara ele decidiu parar, mas era tarde demais. Um segundo de vacilo foi o bastante. Tudo que eu me lembro depois disso é de acordar ouvindo meus pais chorando no banco ao lado da minha cama.
Prefácio:
- Fred, pelo amor de Deus vai devagar!
- Tá com medo, gatinha?
- Não Frederico, mas você tá correndo muito! Não seja estúpido, por favor. Pára essa moto, por mim.
- Relaxa, gata. Tá comigo, tá com Deus.
- Você é louco, tá bêbado e sem capacete! Pára agora, eu quero descer!
Ele não parou. Acelerou mais.
Meu coração batia forte enquanto Frederico corria noite adentro. Ele estava visivelmente bêbado. Discutimos, e quando eu comecei a chorara ele decidiu parar, mas era tarde demais. Um segundo de vacilo foi o bastante. Tudo que eu me lembro depois disso é de acordar ouvindo meus pais chorando no banco ao lado da minha cama.
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