quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Coragem é o que me falta.

- Está pronta pra ouvir as "instruções", Marcele? - Perguntou.
- Quando quiser.
- Tudo bem, minha querida. Agora vou te explicar a real situação do Frederico, está bem? Os pais dele estão colaborando, nessa fase difícil em que ele pensa ainda ter 16 anos de idade quando na verdae tem 18. A regra número um é: não mentir pra ele em hipótese alguma. Não inventar situações que não aconteceram nem nada do gênero. Regra número dois: não contar TODA verdade a ele. - ela deu uma ênfase no TODA. - Você não pode simplesmente chegar no quarto e dizer: "Olá Frederico, tudo bem? Eu sou sua namorada e estava com você no dia do acidente, uma pena não é?". Ele iria te olhar com cara de "hã"? O frederico ainda não sabe o que aconteceu. Não sabe que perdeu a memória nem o que faz aqui. a mãe fica com ele o tempo todo dizendo que logo ele vai saber. Ela quer que você conte. O Frederico está muito confuso, por isso é importante contar o mais rápido possível. O que estou tentando te ensinar é a form CERTA de contar, você entende?
Fiz que sim com a cabeça e ela continuou falando.
- Você vai entrar no quarto e primeiramente dizer "oi", e perguntar o que houve com ele, e deixá-lo contar sua história. Depois diga que também tem uma história pra contar. Explique a ele o que aconteceu...
Tereza falou, falou e repetiu várias vezes até que eu tivesse entendido. Eu entendi. Não ia ser nem de longe uma tarefa fácil. Eu tinha certeza que ao ver o Fred eu ia ter vontade de abraçá-lo, beijá-lo e niná-lo no meu colo até ter certeza que ele estivesse bem, embora Tereza tivesse me instruído a não fazer isso em hipótese nenhuma se quisesse que ele se curasse. Eu estava decidida a me controlar. Pelo bem do Frederico e pela paz da minha alma. Eu não consegui dormir. Fiquei apenas deitada em minha cama pensando em tudo que iria dizer. Eram 9:32 da manhã quando Tereza veio me chamar. Frederico tinha finalmente acordado.
Ela me ajudou a tirar a camisolinha de hospital, e vestir uma roupa decente, com uma blusa de frio laranja e uma calça de moletom larguinha. Fiz um coque frouxo no cabelo. Era como ele estava acostumado a me ver sempre.
Com muito cuidado ela me colocou numa cadeira de rodas, visto que seria impossível que eu caminhasse dois dias depois de fazer uma cirurgia nas pernas.
Tereza fiou comigo o tempo todos, e foi arrastando minha cadeira pelos corredores do hospital. Quando paramos em uma porta e ela disse "é aqui", não é possível explicar os sentimentos que invadiram.
Fiquei com medo de não conseguir dizer o que tinha que dizer, e imensamente feliz por finalmente poder ver o seu rosto de novo.
- Seja forte, minha querida. Tenho fé em você,e sei que vai conseguir. Coragem!

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