Quando acordei, estava num lugar diferente. Agora eu tinha um travesseiro,e minha perna não estava mais pendurada, e não doía tanto. Me senti relativamente bem, só estava um pouco enjoada. Não conseguia acreditar ainda no que Tereza tinha dito, acreditei que fosse um sonho. Quando acordei e me mexi, um fio que estava preso na minha perna se mexeu também e acionou uma luz vermelha que piscou. Logo Tereza entrou no quarto e me peguntou como eu me sentia.
- Quero ver o Fred. - Eu não estava brincando. Seria capaz de arrancar todos os fios que me prendiam a aquela cama, rasgar toda a minha pele e sair correndo pelo hospital com meio quilo de gesso na perna pra vê-lo. Eu precisava.
Tereza suspirou profundamente antes de fazer um sim com a cabeça.
- Mas você não pode ir agora. São 6:00h da manhã do dia 16 querida, e ele está dormindo. Você foi operada as 22:00h do dia 14 e dormiu o dia todo ontem. O Frederico costuma acordar entre nove e dez da manhã. Mas fique calma. Eu não vou te tirar o direito de vê-lo. Assim que ele acordar eu te levo lá.
- Obrigada.
- Tenho boas notícias pra você, sobre o caso do Frederico. Mas não quero lhe dar falsas esperanças, ok?
Aquelas palavras foram mágicas. Recuperei na hora a vontade de viver e o brilho no olhar. Perguntei animada:
- Ele vai se curara, Tereza?
- Não é bem assim, Marcele. Como eu te disse, fizemos a cirurgia e as melhoras foram consideráveis. Ele contou a uma das nossas enfermeiras que estava tendo pesadelos com um acidente. Ele disse que se via dirigindo uma moto, e de repente bateu de cabeça na calçada. Nós nem ao menos tinhamos descrito o acidente pra ele. Mas ele disse que foram só flashes, e que estava assustado. Ele pensa que tem 16 anos, Marcele. Como eu disse, ele apagou os ultimos dois anos da cabeça. A ultima coisa de que ele se lembra é dos eu aniversário de 16 anos.
- Ele se lembrou do... acidente? Isso significa que ele vai lembrar de tudo, não é? - Sorri de orelha a orelha.
- Desculpe dizer isso, mas não. A chances dele recuperar a memória, que eram de 7% aumentaram para 9%. É um percentual ainda muito pequeno, Marcele. Ele pode ter alguns flashes mais é perigoso. Ele não vai entender do que está se lembrando, e pode entrar em depressão. Contudo, eu não te contei um detalhe: Ele descreve o acidente, mas diz que se vê na moto sozinho. Não tinha mais ninguém com ele.
Senti de novo aquela dor, aquele desconforto. Não era justo. Pensei em tentar contar tudo a ele, mas parece que Tereza adivinhou meus pensamentos e disse:
- Contar a ele não vai adiantar, Marcele. Ele tem que se lembrar naturalmente. Se você disser, ele pode entrar em depressão profunda por não entender. Aquela não será a vida dele. Achamos melhor não dizer nada ainda. Deixamos essa tarefa pra você. Vocês tem uma ligação muito forte. Logo voltarei aqui pra te instruir sobre o que você deve e não deve dizer. Agora vou buscar algo pra você comer. Você não come há mais de 30 horas sabia? Deve estar faminta! Volto em um instante.
Tereza voltou ao meu quarto pouco tempo depois, como havia prometido. Trouxe com ela a comida de hospital sem sal que eu sempre detestei. Mas como toda comida é boa quando se está com fome, acabei comendo tudo. Ela me olhava com um sorriso de aprovação no rosto. Depois que terminei, ela colocou o prato na mesa ao lado da cama e sentou-se num pufe, olhando-me nos olhos.
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