- Ele apagou por completo os últimos dois anos de sua mente.
Eu não consegui dizer nada. Minha boca estava aberta e meus olhos cheios d’água. Fiquei ali, parada pensando no nada por alguns instantes, sentindo uma dor horrível, algo se quebrando dentro de mim. Senti uma coisa que jamais achei que seria capaz de sentir: a dor da perda, o desespero do abandono. Naquele instante senti algo morrendo dentro de mim. Foi a pior sensação que tive na vida. Um sentimento de impotência me invadiu. Aquilo tinha acontecido com o Fred e eu não pude fazer nada para impedir. Ninguém nunca na vida vai sentir alguma coisa parecida. Lembranças me invadiram e eu não pude fazer absolutamente nada. Veio o torpor, depois um formigamento estranho, e estava feito. Eu era nostalgia.
Veio-me a cabeça o pedido de namoro, que tinha acontecido há um ano. Lembrei-me de como Fred estava vestido, e do seu antigo corte de cabelo.
”Era uma noite de sexta e o céu estava estrelado. Estávamos no parque de diversão, e o Fred me convidou pra ir com ele na roda gigante. Subimos, eu com um algodão doce enorme na mão. Depois de algumas voltas, paramos bem alto. Foi quando ele olhou pra mim com os olhos brilhando e disse:
- Você é o que eu quero pra mim, Má. Eu não entendo o que acontece, mas quando estou com você sinto uma coisa crescendo dentro de mim, me dá vontade de gritar. O que eu sinto por você é totalmente impossível de ser descrito. Deixa eu te fazer feliz, Marcele. – Ele tirou um anelzinho de prata do bolso e colocou na palma da minha mão – Deixa eu te mostrar que posso ser bom pra você. Namora comigo, pequena.
Eu não consegui dizer nada e com lágrimas de felicidade nos olhos coloquei a aliança no meu próprio dedo e o beijei apaixonadamente. Depois que a roda voltou a girar ele me abraçou e disse um “Eu te amo” no meu ouvido que me fez ficar arrepiada.”
Comecei então a me lembrar de um piquenique, quando tínhamos 2 meses de namoro.
”Estávamos sentados numa toalha xadrez com uma cesta cheia de comida ao lado como nos filmes, ou contos de fada. Ríamos e nos beijávamos como duas crianças que estão comendo doce escondido dos pais. Fred passou o dedo na calda de chocolate do bolo e depois mo meu nariz.
- Palhaço! – Eu disse rindo antes de acertar-lhe um soquinho na barriga.
Ele riu e beijou a ponta do meu nariz, depois me deu um selinho, antes de passar uma mão inteira cheia de calda no meu rosto.
- Você seria uma mulata muito sensual – Ele disse mordendo o canto da boca.
Mandei o dedo do meio pra ele e lambuzei seu rosto também. Ficamos rindo até o final da tarde, quando tivemos que sair andando pelo parque melados de chocolate pra ir lavar o rosto, rindo muito. Parecíamos dois retardados.”
Lembrei-me naquele instante das vezes em que eu brigava com a minha mãe e ia correndo pra casa dele. Veio-me uma coisa que ele tinha me dito uma vez numa ocasião dessas.
”Hey, olha pra mim, Má. Não importa se você brigar com a sua mãe, ou com quem quer que seja. EU vou estar aqui pra te proteger e te impedir de fazer o que é errado. Nada mais importa pra mim, pequena. É por você que eu vivo, e se você está triste, eu também estou. Se um dia você morrer, eu vou junto com você. Você pode ter quanto namorados quiser e me esquecer pra sempre. Mas eu NUNCA vou te esquecer. Eu vou me lembrar de você até o fim da minha vida, não importa o que aconteça. Eu prometo.” As lembranças estavam acabando comigo.
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